Só de pensar em escrever após a eliminação do Brasil na copa, me vem em mente uma história que me foi contada há alguns anos. Um astrólogo muito reconhecido no Brasil foi entrevistado pelo Jô Soares e, naquele momento, aceitou fazer uma previsão do resultado de um jogo que o Brasil estava prestes a disputar. Sua previsão foi de que o Brasil venceria. O Brasil perdeu…e o astrólogo também. Algumas pessoas dizem que sua carreira foi bastante prejudicada por este fato.
Digo isso porque meu propósito é muito menos arriscado…dou minhas opiniões só após o jogo e me policio para me restringir a minha área (Deus me livre de eu dar alguma opinião sobre a área do Dunga, vai que a CBF goste e me chame para treinar a seleção).
O que eu quero trazer aqui é minha opinião enquanto pessoa que trabalha com pessoas, com grupos. E não tenho a presunção de afirmar algo incontestável, mas algo que, na minha opinião, pode trazer um pouco de reflexão neste momento de derrota da seleção brasileira.
Eu vi um grupo brasileiro, e gostei de ver. Um grupo que sofreu uma derrota, o que é, obviamente, da natureza das competições. Mas eu gostaria de estar presente neste grupo, e acredito que não teria me arrependido de ter participado deste grupo, mesmo após a derrota (aliás, se eu fizesse parte a derrota era garantida). Quando Dunga foi entrevistado, após a partida, ele disse que se quiséssemos realmente conhecer esta seleção deveríamos ver a expressão de cada jogador no vestiário, ao fim do jogo. Júlio César, um grande goleiro que teve seus maus momentos contra a Holanda, resolveu encarar os jornalistas e mostrar que Dunga falava a verdade. Júlio César falou da tristeza do grupo, chorou, se expôs com coragem e humildade. Júlio César mesmo disse: “Estou colocando minha cara a tapa”.
Neste momento, naturalmente, procuramos responsáveis, culpados pela derrota. Mas quem foi o responsável pela maturidade do grupo? Quem foi o responsável por criar uma equipe que manifesta respeito, dedicação, tristeza?
O futebol passa por um momento frágil, uma fragilidade produzida pela potência econômica que se tornou. Afirmo isso no sentido humano, no sentido de grupo, de identificação com o time. Hoje temos mais “empresas” do que “times”. Há pouco tempo era possível ver um jogador passar toda a sua carreira no mesmo time. Existia uma identidade, existia uma paixão de um grupo. Hoje temos negócios, o que mais se fala é sobre a “janela” (período em que se intensificam as negociações de jogadores devido a algumas regras e calendários das competições mundiais). O jogador de futebol de hoje vive uma experiência semelhante à dos grandes executivos, à medida que é reconhecido e traz resultados será comprado pelos “times” de grande capacidade econômica. E o grupo? O grupo passa a ser uma soma de jogadores que, muitas vezes, tem pouca ou nenhuma identificação com a sua “empresa”.
Na copa do mundo de 2006 eu vi isso, vi um grupo apático jogando pelo Brasil. Não me pareciam muito identificados com a tal “seleção Brasileira”, mas eram estrelas que se achavam no direito de estar lá. Tanto que os torcedores se surpreenderam quando, no jogo em que o Brasil foi eliminado pela França, muito jogadores brasileiros saíram de campo sorrindo. Os torcedores tristes e os jogadores sorrindo após uma grande derrota? Como assim? Como diria o maravihoso Chicó ( personagem do filme “O auto da compadecida”): Não sei, só sei que foi assim.
Hoje, quando eu, triste, vi os jogadores saindo de campo chorando pela derrota, pensei “que felicidade, voltamos a ter uma seleção brasileira”. Vitórias aparecem, craques aparecem e dão mídia, mas transformações e amadurecimento dificilmente geram tantos fãs.
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