(Dedico este artigo ao meu segundo filho, Luan, nascido dia 30 de março de 2009. Que muitos pontos de interrogação o acompanhem.)

Considero que a busca de certezas seja intrínseca ao ser humano, mesmo que elas estejam muito distantes. E é importante que nos tornemos conscientes desta nossa necessidade de encontrar respostas definitivas. Porém, a dúvida (enquanto questionamento) nos é muito mais familiar e não há como amadurecer sem sua presença constante.

Por mais que a dúvida e a certeza pareçam antagônicas à primeira vista, nossa razão diz que não o são. Mas, infelizmente, na maioria das vezes não exercemos este antagonismo. O que seria praticar este antagonismo? A proposta é nutrirmos a dúvida a um nível que não estamos acostumados a nutrir, pois alimentando-a além do habitual poderemos saciá-la verdadeiramente. A dúvida é como um grande animal faminto, não é fácil saciá-la. Nossas frustrações, cansaços, tédio, sãos algumas de suas manifestações, pois só enganamos a sua fome e tentamos convencê-lo de que o alimento dado foi suficiente.

Sendo o yoga uma abordagem psicológica, a reflexão tem papel fundamental. E o treinamento do antagonismo é proposto explicitamente na prática chamada “pratipakṣa bhāvanam”, que se caracteriza pelo exercício da reflexão através da ponderação do ponto de vista oposto ao qual eu experiencio. A isso se segue a análise dos resultados diretos e indiretos desta mudança de visão.

Porém, a tarefa de reconhecimento e análise de nossas crenças e atitudes não é tão simples. Como somos os responsáveis principais pela estruturação e sustentação de nossas crenças, nosso questionamento dificilmente se apresenta de forma desapegada e ampla. Eis o motivo pelo qual é indicado o auxílio de um “professor-terapeuta” para o sucesso deste processo. E qual o papel deste professor? Exercer justamente aquelas qualidades que são esperadas de nós mesmos em uma análise franca, qualidades estas que infelizmente se tornam difíceis de acessar quando nos encontramos em situações de conflito. O professor deverá, portanto, ser uma referência de ausência de julgamento, dar auxílio na construção de um questionamento mais aberto e amplo (oferecendo novos “pontos de interrogação”) para que se abram novos caminhos de reflexão. Para que o professor possa assumir seu papel fica clara a necessidade de que ele tenha conhecimento da forma como se estruturam as “armadilhas emocionais” do ser humano. Além de conhecimento teórico, o “professor-terapeuta” só poderá criar a empatia, humildade e sabedoria necessárias ao exercício do seu papel caso vivencie o mesmo processo com seu próprio “professor-terapeuta”. Um professor precisa amadurecer continuamente sua própria capacidade de ser aluno.
Se o professor não vivenciar profundamente o papel de “aluno-paciente”, haverá riscos de grande vulnerabilidade na construção do seu papel de “professor-terapeuta” e dificilmente ele terá condições de estabelecer um vínculo profundo (empatia) entre ele e o “aluno-paciente”.

Por isso evito definir o yoga como um “conjunto de técnicas”. A busca sincera pelo amadurecimento humano e o vínculo que cria as condições para que este crescimento ocorra não estão no campo do domínio técnico, estão no coração. A pressa em encontrar certezas pode facilmente nos conduzir a uma percepção rígida da dinâmica da vida. Quem não teme suas próprias interrogações está mais perto da essência fluida da vida.