Há uma tradicional metáfora indiana que se utiliza das imagens do sol e da lua. Nessa metáfora, bastante usada nos meios de yoga e vedanta, o sol representa o espírito e a lua representa a mente.
A lua não tem luz própria, sua luz é apenas o que ela consegue refletir do sol. Por essa razão, durante o dia, a lua não é lembrada por nós. Por qual razão nos voltaríamos a ela uma vez que a luz direta do sol está à nossa disposição? Mas, quando o sol se esconde e a noite chega, a lua conquista admiradores. A lua, antes negligenciada, passa a ser lembrada e reverenciada. É à noite que reconhecemos sua beleza e sua importância, é à noite que nos tornamos gratos a ela.
Assim é, também, a mente. Quando o espírito brilha, solitário, não há razão para a existência da mente. O espírito é visto como pura presença, pura essência de vida e consciência. A luz do sol é como a luz do espírito, a luz do “puruṣa”, a luz do “ātma, a luz da consciência que ilumina a mente. É ela, sem dúvida, a fonte. É ela, sem dúvida, o destino. Mas, para a vida humana, para a vida que oferece o desafio e a doçura das relações, a mente é o grande instrumento. Enquanto buscadores, enquanto seres humanos que reconhecem sua própria ignorância, sua própria escuridão, humildemente nos lembramos, a cada tropeço, de reverenciar a luz da lua. A mente, negligenciada por aqueles que se fixam apenas no destino e esquecem os passos, é, na realidade, o supremo instrumento. Precisamos que ela nos proteja, oferecendo vestígios do brilho do espírito enquanto não o vemos diretamente devido a nossos obscurecimentos. A mente não tem luz própria, mas só ela pode nos revelar a luz do espírito. Reverenciamos a mente como quem, tateando, se alegra ao encontrar a lamparina na noite escura. É ela que nos oferece a segurança que precisamos para continuar caminhando.
Enquanto o dia não nasce, cuidemos da mente, apliquemos o conhecimento do yoga. A mente não é uma ilusão, e sim uma bondosa parceira. Se não cuidarmos do corpo, não encontraremos a qualidade de mente que precisamos. Se não cuidarmos da mente, não encontraremos o espírito. A única ilusão está em crer que a mente tem luz própria. E, por essa razão, um danoso e sutil engano seria cuidar do corpo sem mirar a mente e cuidar da mente sem mirar o espírito. Yoga é essa integridade, essa conexão.
Se desprezarmos a lua, quem trará luz para nossas noites escuras?
Se desprezamos a mente, quem trará discriminação para nossa herdada ignorância?
Dediquemos nosso cuidado e atenção ao caminho, o destino está adiante, protegido, seguro. Que a mente se vá, satisfeita com seu percurso, com nosso último sopro. Que ele seja como o alegre e grato sopro que apaga a lamparina quando o nascer do sol se aproxima.
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